terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sobre o amor
É melhor ser amante ou o amado? Nenhuma das coisas, se o colesterol passar dos seiscentos. Quando me refiro ao amor refiro-me, evidentemente ao amor romântico - ao amor entre homem e mulher e não entre mãe e filho, ou entre um rapazinho e o seu cão, ou entre dois criados de mesa.
O que é maravilhoso é que quando se está apaixonado se sente um impulso para cantar. Deve-se resistir a isso com todas as forças e deve-se também ter o cuidado de evitar que o macho ardente "recite" as letras das canções. Ser-se amado é, evidentemente, diferente de se ser admirado à distância, mas para amar alguém verdadeiramente é preciso estar no mesmo quarto que a outra pessoa, agachado atrás das cortinas.
Para se ser um amante verdadeiramente bom tem de se ser simultaneamente terno e forte. Forte até que ponto? Suponho que chega a ser-se capaz de levantar cerca de vinte quilos. É preciso não esquecer também que, para o amante, a amada é sempre a coisa mais bela que se pode imaginar, mesmo que um estranho a não possa distinguir de uma qualquer variedade de salmonídeos. A beleza está nos olhos do espectador. Se o espectador tiver falta de vista, pode perguntar à pessoa que estiver mais perto quais as raparigas mais giras. (Na verdade, as mais giras são na maior parte das vezes as mais chatas, e é por isso que algumas pessoas acham que Deus não existe.)
"As alegrias do amor são breves", cantou um trovador, " mas as penas do amor são eternas". Isto quase chegou a ser uma canção de êxito popular, mas a melodia era demasiado parecida com o I´m a Yankee Doodle Dandy.

Woody Allen, 1981

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